Mordidas: agressividade ou aprendizagem?
Por Ana
Maria Mello e Telma Vitória
O
primeiro contato da criança com o mundo é pela boca e morder faz parte disso.
Ninguém gosta que seu filho seja mordido. Os pais da "vítima", às
vezes, sentem-se culpados por deixarem seu filho correr num ambiente com tantas
crianças. Já os pais do mordedor, quase sempre, ficam envergonhados com o fato.
Tanto a família do mordedor quanto a do mordido se sentem preocupados ou
agredidas.
Mas o que
significa a mordida?
O
primeiro contato da criança com o mundo é pela boca. Você já reparou em um bebê
de quatro meses? Ele leva coisas para a boca. Mãos, pés, todos os objetos ao
alcance vão, mais cedo ou mais tarde, para a boca do bebê.
Ao
colocar um objeto na boca, o bebê está experimentando este objeto. Está
aumentando seu conhecimento sobre as coisas que o rodeiam. Começa a
experimentar diferenças de peso, textura, tamanho, forma. Enfim, a cada bocada
ele conhece um pouco mais o mundo ao redor!
A boca é
um dos meios mais importantes para o bebê entrar em contato com o mundo. Além
de usá-la para conhecer as coisas, o bebê a utiliza para outras formas de
contato. Aceitar ou rejeitar alimentos é uma das formas. Chorar também.
Quando
surgem os dentes, começam as mordidas. Vindo da boca, não podia ser diferente:
a mordida também é uma maneira de conhecer o mundo. Mordendo um objeto, a
criança pode perceber muitas coisas. A diferença entre duro e mole, por
exemplo. Também pode perceber a novidade que é o susto, o choro ou o espanto da
criança mordida. Descobrir que a outra reage à uma grande aventura! Morder pode
ser fascinante. Tão fascinante que a criança pode querer repetir.
Quem será
um mordedor?
Em nossa
cultura, freqüentemente expressamos carinho brincando com os dentes, sobretudo
com bebês, fingindo morder.
Essas
ações geram "modelos de imitação" para os pequenos. Eles utilizam
esses modelos nas brincadeiras com outras crianças. Porém, ainda não sabem
quanta força podem colocar na boca e também não sabem avaliar as conseqüências
desse comportamento.
Isso não
quer dizer que seja desaconselhável brincar com a criança usando a boca. Pelo
contrário. Desde que respeitadas as particularidades e as sensações da criança,
esses momentos podem ser muito afetuosos e de grande intimidade. É preciso
apenas ir mostrando que ela pode acabar provocando dor e machucando outras
crianças. Sobretudo aquelas que não estão com vontade de entrar na sua
brincadeira.
A
diferença individual também é importante nesta hora. A partir de experiências
com os adultos e os objetos, cada criança vai construindo uma maneira
particular de reagir.
Um
beliscão, dado com a mesma força pode provocar reações diferentes em diferentes
crianças. Um som alto pode não chamar a atenção de algumas, enquanto outras
ficam extremamente irritadas. Isso também é válido para o toque, a tolerância à
frustração, os sentimentos de ciúme, a busca de atenção ou a procura de exclusividade.
Cada criança tem sua maneira de reagir frente aos conhecimentos.
Em
situações em que se sente contrariada ou nas disputas de objetos, algumas
crianças reagem de forma explosiva, mordendo, enquanto outras choram, na
expectativa de que o adulto a ajude.
Muito
comum é acontecer uma mordida quando uma nova criança entra num grupo de
crianças. Pode ser que uma das crianças fique insegura ou com ciúmes da novata.
Sem poder compreender direito, sem ter como organizar suas emoções, ela pode
descarregar sua ansiedade na forma de mordida. Você já deve imaginar: em geral,
o alvo é esta nova criança.
Como
acabar com as mordidas?
Há
"receitas" para obter mordidas, mas para acabar com elas, não.
Importante é saber disto: Seja qual o for o fator que leve à mordida, é preciso
muito cuidado para não rotular a criança como “mordedor”. Quando se rotula uma
criança, todos passam a esperar que ele volte a ter aquela reação. Mesmo que
seja uma expectativa sutil, a criança percebe. Para ela, essa expectativa é
marcante, e pode aumentar a ansiedade da criança. Esse aumento da ansiedade
pode levá-la a dar novas mordidas.
Se a
mordida acontecer, reforça-se a idéia de que ela é mordedora. A expectativa
aumenta, aumenta a ansiedade e ela morde mais uma vez. Um ciclo sem fim.
Mesmo que a criança não fale direito, alguma coisa da conversa dos adultos ela entende. Ela percebe o clima. Isso também pode acentuar seu comportamento de morder, com motivo ou sem motivo aparente. Por isso, se for preciso conversar sobre o fato, é melhor que não seja na presença da criança.
Mesmo que a criança não fale direito, alguma coisa da conversa dos adultos ela entende. Ela percebe o clima. Isso também pode acentuar seu comportamento de morder, com motivo ou sem motivo aparente. Por isso, se for preciso conversar sobre o fato, é melhor que não seja na presença da criança.
Na
ocorrência de uma mordida, talvez o melhor seja tratar o fato com
tranqüilidade. É importante esclarecer, para a criança, a dor que se sente.
Importante também é ajudá-la a encontrar outras formas de se comunicar. Mostrar
possibilidades de expressar, através da fala e dos gestos, suas emoções.
É preciso
compreender que esta é uma fase do desenvolvimento da criança. Praticamente
todas as crianças, entre um e três anos, em algum momento, usaram ou usarão tal
conduta. Esse recurso praticamente desaparece quando a linguagem estiver mais
desenvolvida.
Postado por R
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